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Por que ANTICOLONIAL?

Se conhecemos a história, língua e cultura de vários povos europeus e ainda desconhecemos as histórias e culturas dos nossos povos originários e dos povos africanos que nos formam, precisamos descolonizar nossos saberes e conhecimentos.

Se nossas referências acadêmicas e artísticas são, em sua maioria, brancas, estadunidenses e europeias, precisamos descolonizar nossa estética e nossos pensamentos.

Se o nosso padrão de beleza ainda compra o “loiro de olho azul” e rechaça ou se surpreende com o nariz largo, o cabelo crespo, a pele preta, os olhos rasgados, precisamos descolonizar nossa auto-imagem e nossos afetos.

Se ainda nos consideramos um país jovem perante o “velho mundo” e não conseguimos alcançar o tamanho e extensão das violências coloniais que começaram com as invasões e se mantêm com a estrutura intacta, precisamos nos descolonizar.

Os estudos pós-coloniais antecederam os estudos decoloniais, onde começamos a vislumbrar o desejo de descolonizar a partir da reaproximação de nossas riquezas culturais e da valorização de nossa cultura negra e indígena. E, para que este desejo consiga reestruturar a sociedade, entendo essencial a LUTA ANTICOLONIAL.

É importante entendermos e termos a capacidade de perceber as nuances das inúmeras violências coloniais atuais que se traduzem no conceito de NECROPOLÍTICA cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, no domínio da branquitude que ainda ocupa a maioria dos postos de liderança em todos os setores da sociedade e na autoestima devastada da população negra e indígena.

A escolha de ANTICOLONIAL e não DECOLONIAL se deve ao fato do termo despertar um primeiro entendimento imediato e também sugerir AÇÃO, remeter a algo PRESENTE e URGENTE, algo que se deve combater HOJE. A ideia é suscitar uma postura ativa diante do sistema mais poderosamente cruel já inventado com o objetivo de usurpar e destruir determinados corpos, suas subjetividades, seus alicerces culturais e suas histórias, suscitar uma postura ativa diante da célula inicial e nefasta do racismo: a ESTRUTURA COLONIAL.

Então tudo o que exalta as culturas indígenas e culturas negras, que revele as belezas, sabedorias, riquezas, tecnologias, que reconstrua, recupere memória, crie novas memórias, que exale vida e incentive a expressão de nossas existências, entendo como ARTE ANTICOLONIAL, como LUTA ANTICOLONIAL.

Lembrando que, como diz Rita Von Hunty “A ideia de um gênero binário é uma importação europeia”. Numa entrevista onde cita a congolesa sequestrada para o Brasil, Xica Manicongo e o Indígena Tibira do Maranhão como exemplos dos primeiros casos documentados [do que hoje entendemos por] LGBTfobia praticada pelos invasores entre os séculos XVI e XVII (pra falar de um início desta história do país que atualmente é o que mais mata a população LGBTQIAPN+ no mundo). Isso faz da luta anticolonial uma luta tão antiLGBTfóbica quanto antirracista.

Finalizo com GRADA KILOMBA, na pág. 28 de seu livro MEMÓRIAS DA PLANTAÇÃO:

“(...) enquanto escrevo eu me torno a narradora e a escritora da minha própria realidade, a autora e a autoridade na minha própria história. Nesse sentido, eu me torno a oposição absoluta do que o projeto colonial predeterminou”.

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“É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l, nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais, que condensa você em , o está em e por aí afora. Não sacam que tão falando pretuguês.” 
O Pretuguês, que Lélia Gonzalez aponta em seu artigo "Racismo e sexismo na cultura brasileira" (pág. 90 do livro Por um Feminismo Afrolatinoamericano) como herança orgulhosa de nossas origens africanas, entendo também como importante símbolo anticolonial. Como nos diz Nêgo Bispo no vídeo "Vida, memória e aprendizado quilombola":


“Quando nós falamos "tagarelando" e escrevemos "mal ortografado"
Quando nós cantamos "desafinando" e dançamos "descompassado"
Quando nós pintamos "borrando" e desenhamos "enviesado"
Não é porque estamos errados, é porque não fomos colonizados”

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Algumas referências: Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Grada Kilomba, Neusa Santos Souza, Franz Fanon, Djamila Ribeiro, Jarid Arraes, Ana Maria Gonçalves, Eliana Alves Cruz, Ailton Krenak, Lélia Gonzalez, Tia Maria do Jongo, David Kopenawa, Itamar Vieira Júnior, Luiz Rufino, bell hooks, Tatiana Nascimento, Rico Dalasam, Marina Afares, Castiel Vitorino Brasileiro, Mayara Ferrão, Giovani Cidreira, Juliana Vicente, Daiara Tukano, Aimé Cesaire, Silvia Rivera Cusicanqui,

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