Projetos Culturais Anticoloniais
Roteiro, Pesquisa, Crônicas, Contos, Ensaios, Entrevistas e Opinião.
A escrita foi minha primeira incursão nas artes. Aos 9 anos escrevi um poema e lembro da reação do meu padrinho lendo. Eu tinha criado algo que além de mover meu corpo e me encher de sensações, reverberava em outras pessoas.
Minha formação literária acredito que tenha começado quando ganhei meu primeiro livro: poemas escolhidos de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos: Fernando Pessoa. Li também muita dramaturgia e, poucos anos depois, ainda na adolescência, encontrei na biblioteca municipal de Curitiba o primeiro livro de muitos que li de Saramago, paixão duradoura que foi objeto de meu trabalho de conclusão de curso: A Ética do Espaço no romance Ensaio sobre a Cegueira. Esta biblioteca me apresentou também Guimarães Rosa, Clarice, Graciliano Ramos, Machado, Reginaldo Prandi (Mitologia dos Orixás), Pepetela, Mia Couto, Ondjaki e ainda os incríveis García Marquez, Cortázar e Borges.
Treinando e experimentando a escrita de contos e pequenas cenas, segui escrevendo até publicar meu primeiro texto, já em Lisboa, um pouco antes de entrar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: uma crítica teatral. Lá também publiquei um livro de contos na editora cartonera de Moçambique Kutsemba Cartão, que me inspirou a fundar a primeira editora cartonera de Portugal, a Bela Cartonera, e publiquei um ensaio sobre cultura e música. De volta ao Brasil, publiquei artigos e matérias na área de cultura em revistas e sites como Geledés, Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Revista Brasileiros, Caros Amigos e L’Officiel Brasil.
Foi só a partir de 2019, quando retornei a Portugal, que comecei a aprender a nomear as violências coloniais, todo racismo e xenofobia que passei e, a partir disso, iniciei minha intensa pesquisa sobre a colonização estrutural vigente, valorizando minhas origens e autores afrodiaspóricos e indígenas. Começo então a me reconhecer enquanto mulher cis negra afroindígena, o que transformou a minha escrita radicalmente e me fez voltar os olhos com real intensidade para a produção de conhecimento e literatura negra e indígena, para toda a riqueza e sabedoria que nos foi negada em nosso ensino formal e poucas vezes habitavam nossas estantes e conversas. Conheci finalmente a Carolina Maria de Jesus, Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Itamar Vieira Junior, Grada Kilomba, Jarid Arraes, Daiara Tukano, Ailton Krenak, David Kopenawa, Eliana Alves Cruz, Tatiana Nascimento. Entendi muitas coisas desde então (como minha profunda ligação com o Jongo e minha admiração reverente ao Candomblé) e renovei o meu fazer artístico, as minhas atividades ligadas à arte e à cultura, seguindo esta nova ótica que respeita identidades, vontades e saberes.